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Um espirro nas alturas: o que fazer? (A sneeze in the heights: what to do?)

Um espirro nas alturas: o que fazer? (A sneeze in the heights: what to do?)

Estou a 11 km de altitude, 800 km/h de velocidade e temperatura externa em torno de 50 graus Celsius negativos, num vôo para a cidade de Recife. De repente uma jovem, no assento de traz ao qual estou sentado, acreditem, espirra.

Isso há um mês não teria sido alvo nem mesmo de alguma observação. Mas hoje é diferente. Como havia acabado de trocar de assento com um senhor que desejava ficar na mesma fileira do restante de sua família, a pedido de sua esposa, pensei imediatamente no que um gesto de cortesia poderia gerar para mim. Nem bem acabei de pensar a jovem espirra mais duas vezes seguidas (a jovem era daquela família).

Ai meu Deus! E agora, como lidar com isso? O que fazer? Será uma boa opção abrir as janelas da aeronave? Aumentar a intensidade do ar condicionado? Me esconder em baixo do assentoou fugir pela saída de emergência? Colocar o colete salva-vidas? Me fechar na toilete? Qual a opção mais aconselhável? Qual o conselho que o ministro Temporão poderia me dar nessa hora? A Anvisa teria alguma sugestão? Será que a companhia aérea está servindo água com a nova droga contra o vírus já produzida no Brasil a partir de ontem? Ou será que a cerveja, por ter álcool poderia ser a salvação nesse momento, já que não servem mais nem wisky nem vodka? Deveria bebê-la ou passá-la nas mãos e rosto imediatamente para ter um resultado mais eficaz? Deveria também passá-la nos orifícios nasais?

São perguntas simples, que acredito que maioria dos passageiros devem estar fazendo neste momento, e que deve ter sido feita por uma senhora ao meu lado, cuja “cara” de horror e pânico não me é possível descrever nesse momento.

Muitas pessoas no vôo estão de máscaras, daquelas que não adiantam, mas que deixam com aquele ar exuberante de Michael Jackson em tempos de crise. Bem, para ele talvez não tenha adiantado, mas não acredito que venhamos saber. Alguns passageiros – curioso – entraram na aeronave com a mascara no pescoço (?!?!?!). Penso que deve ter sido para proteger as tonsilas (amigdalas, no popular) da possibilidade de infecção pelo vírus H1N1. Mal sabem eles que o vírus não invade as células do pescoço. Bem…

Como lidar com isso tudo? Em época de campanha política lembro de ter que agüentar pelo menos 1 hora por dia em horário nobre de incultos candidatos a oferecerem seus préstimos à população em troca de votos, mas não lembro de uma campanha ocorrida nesses dias esclarecendo sobre o vírus, sobre a gripe, sobre os cuidados, sobre os remédios, sobre a prevenção, sobre o uso das máscaras, sobre quem procurar de fato para lidar com isso. As pessoas nem sabem que não adianta ter plano de saúde, pois a droga utilizada não é oferecida em ambiente privado, e deve ser solicitada pelo médico a unidade pública competente, que até o momento, também não a tem.

Ah, me perdoem, tem um comercialzinho de 30 segundos falando alguma coisa sim, lembro de ter visto entre uma programação e outra. Mas confesso que não era nada semelhante àquelas propagandas políticas partidárias em horário político obrigatório. Me chamou a atenção porque a pessoa, no comercial, perguntava se o problema era grave. Sinceramente, não sei o que pensar. O vírus H1N1 tem herança genética do mesmo que provocou a famosa gripe espanhola, que matou aproximadamente 50 milhões de pessoas, com aproximadamente 4 milhões somente nos primeiros 30 dias. Acho que é grave sim, mas quem sou eu? Se meus colegas da saúde pública divulgam que está tudo sob controle, só me cabe calar.

Acredite, depois de muito refletir, cheguei a seguinte conclusão: se vocês puderem ler algo publicado por mim nesse Blog depois desse artigo, e não for psicografia, é porque sobrevivi aos espirros da jovem. Serei um sobrevivente ou um vencedor?

Desejo sinceramente que você leia o próximo artigo, pois não creio que aja uma única pessoa nesse momento que possa me dizer o que fazer em tal situação, já que o que deveria ter sido feito no início dessa crise de saúde, desse processo neurótico, pandemônico e paranóico, não foi feito.

E por mais que nossos colegas de vôo, a tripulação da aeronave, dêem os avisos pertinentes, nas rodoviárias desse Brasil continuam descendo dos ônibus pessoas desavisadas, talvez contaminadas, sem a menor pachorra, sem o menor aviso, sem a menor prevenção, principalmente a vindas das divisas brasileiras. Pessoas desavisadas continuam correndo para os hospitais com um simples resfriado, correndo o risco de voltarem infectadas. Quem sabe não serei um deles? Quem sabe você não será um deles?

Roberte Metring

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Sucesso e paz.
Varekai (onde quer que seja)
Roberte Metring – CRP 03/12745

Não me peça explicações, não as tenho. Eu simplesmente aconteço.
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