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Cobrar para ajudar?

Cobrar para ajudar?

“Entrei no seu site, li o seu manual (manual gratuito da EFT), mas fiquei muito decepcionada com tudo o que vi. A impressão que eu tive foi a de que encontrei mais uma pessoa querendo se aproveitar do sofrimento alheio para ganhar dinheiro. É o que mais existe nesse mundo capitalista! E você nem tem vergonha em dizer que é engenheiro mas que leu e assistiu a vídeos, achando-se apto a aplicar uma técnica que consiste em meditar sobre momentos que possivelmente foram traumáticos na vida da pessoa, e depois aplicar técnicas de “acupuntura” sem agulhas. Você se apropriou de conhecimentos milenares que estão em qualquer livro de medicina oriental ou budismo e pretendeu ganhar dinheiro com isso? é, no mínimo esperto, pena que para o lado mal… É realmente muito lamentável!”
Este é um recorte de um email que recebi de Andre Lima, que por sua vêz, recebeu de uma leitora que reclamava da forma como ele trabalha e ganha dinheiro. Esse pensamento, no entanto, é um pensamento geral e típico, pois todas as pessoas acham que profissionais que atuam nos serviços de intervenção psíquica ou emocional devem ser abnegados servidores, e que talvez haja uma árvore divina de dinheiro que cai nas suas cabeças toda vez que uma conta precisa ser paga.

 Mas muito para além disso, interessante com as pessoas concordam em pagar por qualquer coisa, digo, qualquer coisa: por uma bebida boa, por um bom restaurante, por um show (que nem precisa ser bom), por um passeio, por uma roupa de grife, por um sapato importado, por um bom carro, por um penteado novo, por uma bolsa da moda, pelo melhor médico, por um advogado decente, pela academia que deixa sarado(a), pelo melhor computador, pela melhor banda larga, pela TV fechada, etc . etc. etc., mas não quer pagar para lidar com seus sofrimentos, achando que profissionais dessa área devem se submeter ao trabalho voluntário, caridoso, filantrópico e humano, como se os outros não fossem desenvolvidos por humanos, ou seja, de graça! Há um equivoco do pensamento que dissocia serviço de produto, e confunde o serviço como caridade e abnegação. Assim, ninguém chega numa loja e diz que quer a melhor geladeira mas não tem dinheiro para pagar, e espera que o vendedor (ou o gerente) sejam abnegados servidores do bem comum, e deixem a pessoa sair de lá com seu produto nas costas de graça, ou com 70% de desconto. Quem não tem dinheiro para comprar uma Ferrari não entra numa loja de carros para chorar suas mazelas ao vendedor e exigir que ele tenha piedade de si. Mas quando se trata das pessoas que lidam com o sofrimento, chegam já se queixando. Passam uma vida inteira investindo em tudo que o dinheiro pode comprar, mas quando descobrem que não podem comprar a paz, a felicidade e a saúde (seja física, psíquica ou emocional), se desesperam, e querem o milagre mais poderoso, pelo valor mais econômico.

 E assim vai…..

 André faz os seguintes comentários à respeito:

” As crenças que carregamos nos fazem enxergar e julgar o mundo de uma determinada maneira. Observe as crenças que aparecem explicitas ou implícitas:
  • Quem cobra para fazer trabalhos emocionais está ganhando dinheiro com o sofrimento dos outros
  • Esses trabalhos tem que ser gratuitos
  • Trabalhos “de ajuda” tem que ser gratuitos
  • O mundo é egoísta e capitalista (“capitalista” se torna sinônimo de algo ruim) etc…
 E o interessante é que ela leu um texto gratuito, pegou o manual gratuito para se ajudar (e que realmente ajuda, desde que a pessoa faça o que é ensinado nele!) mas não viu isso como uma coisa boa. Suas crenças fizeram com que ela observasse a realidade de uma outra forma, chegando até a distorcê-la. Observe a frase: “Você se apropriou de conhecimentos milenares que estão em qualquer livro de medicina oriental ou budismo e pretendeu ganhar dinheiro com isso”, como se fosse realmente possível alguém se apossar e monopolizar um conhecimento gratuito e proibir outros de usar sem pagar. Através das nossas crenças, vemos aquilo que as emoções nos dizem, e não a realidade. E todos nós fazemos isso (eu me incluo nessa), em maior ou menor grau.
 Eu respondi o email agradecendo a opinião sincera. É bom saber sobre essas crenças.
 Todas as vezes que julgamos e criticamos, fazemos isso através do nosso filtro emocional que analisa o que acontece e diz se é errado ou certo, bom ou mau, bonito ou feio. E quando estamos sobre o efeito desse filtro, buscaremos várias pensamentos que nos provam que estamos certos.
 Surge então uma sensação de “como eu estou certo” e como o outro está errado. O sentimento é desagradável, uma raiva, irritação, inquietação. Mas tem um efeito de fazer o ego se sentir temporariamente superior a outra pessoa que está “errada” na nossa concepção. E pensamos então como a outra pessoa é cega por não ver como vemos, ou que é aproveitadora e egoísta mesmo…
 É por isso que julgamos e criticamos tanto. Isto nos faz sentir que somos melhores. Esse processo não ocorre de forma tão nítida e consciente. Quando vemos, já estamos julgando. Os pensamento surgem involuntariamente. Consigo perceber em mim diariamente, inúmeros pensamentos que criticam, julgam, acusam. Tudo acontece muito rápido. É a minha ilusão inconsciente em achar que preciso ser superior. E o caminho mais fácil que o ego encontra é o de diminuir outras pessoas para criar essa ilusão.
 Mas depois que entendemos esse mecanismo, podemos ficar mais atentos aos pensamentos e não nos deixar enganar tanto pelas armadilhas do ego e sua necessidade de se sentir superior.A medida que observamos, o impulso de julgar vai diminuindo. Mas enquanto ainda houver ego, ele vai existir.”
 Outro dia comecei a pensar e tentei encontrar algum tipo de trabalho que não seja “de ajuda”. Todos os serviços prestados servem para ajudar o ser humano de alguma forma: se alimentar, crescer intelectualmente, se vestir e ficar agasalhado e protegido, melhorar a autoestima, melhorar a saúde física e etc… Alguns trabalhos podem ser mais supérfluos, mas tem vários outros que servem para suprir necessidades vitais do ser humano (e até mesmo dos animais).
E para que tudo seja feito, e de forma bem feita, é preciso haver remuneração. Quando nós não pagamos e recebemos algo, alguém está pagando por nós: o governo, os voluntários, a sociedade, ou alguém da nossa família.

 Acredito que ficou bem explicadinho. Acredito que a reflexão pode servir para todos nós, que achamos, de uma forma ou de outra, que alguém tem que cuidar da gente, e que não precisamos fazer nada por isso. Precisamos aprender a discernir entre despesa e investimento. Pagar R$ 10,00 por algo que não traz nenhum benefício é muito caro. Pagar R$ 1.000,00 por algo que vai lhe fazer feliz, restituir a saúde, renovar o prazer, energizar a motivação ….. isso não tem preço.

 Roberte Metring

 

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Sucesso e paz.
Varekai (onde quer que seja)
Roberte Metring – CRP 03/12745

Não me peça explicações, não as tenho. Eu simplesmente aconteço.
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