×

PSICOLOGIA MODERNA – INFLUÊNCIAS – PARTE 3 Gestaltismo

PSICOLOGIA MODERNA – INFLUÊNCIAS – PARTE 3 Gestaltismo

No artigo PSICOLOGIA: como surgiu enquanto ciência?, vimos que o estudo da psicologia teve seus expoentes em Willian James, de um lado, e Wilhelm Wundt de outro, no início de 1900. Em seguida apresentamos a influenciação do behaviorismo (PSICOLOGIA MODERNA – INFLUÊNCIAS – PARTE 1 Behaviorismo), e do cognitivismo (PSICOLOGIA MODERNA – INFLUÊNCIAS – PARTE 2 Cognitivismo). Hoje vamos pincelar a influência do gestaltismo na Psicologia Moderna. O gestaltismo é originário de um movimento de origem alemã, mas que acabou por se desenvolver também na América do norte. A palavra GESTALT é de origem alemã, e não se consegue uma tradução exata para o português, mas o significado mais próximo é de forma, estrutura, todo. Os principais teóricos são da Gestalt são Max Wertheimer (1880-1943), Kurt Kofka 91886-1941) Wolfgang Khöller 91887-1964) e Kurt Lewin (1890-1947).
Seu nascimento foi, na verdade, uma tentativa de oposição a outras correntes psicológicas da época, particularmente ao estruturalismo e ao behaviorismo, por julgarem os gestaltistas que estas duas correntes subestimavam o indivíduo como ser preponderante e atuante, e o colocavam num papel de “registrador” de estímulos do ambiente.
Os gestaltistas também não concordavam com a decomposição do todo em elementos simples que os estruturalistas propunham aos fenômenos mentais, nem com as simples unidades de estímulo-resposta (S-R) propostas pelos behavioristas. Entendiam que tanto uma coisa quanto a outra destituía o sentido do fenômeno estudado.
Para a psicologia da Gestalt o todo é sempre maior que a soma de suas partes, e a tentativa de estudar o todo pelas partes sempre acabará num resultado frustrado que não representaria a verdade. Seria o equivalente a uma melodia, que no todo tem um significado próprio, mas que se decomposta em pequenos grupos de notas ou instrumentos, perderia a estrutura final por onde a música poderia ser identificada.
A percepção humana foi o tópico de longe mais estudado pelos gestaltistas, sempre de forma rigorosamente experimental. Os conceitos gestalticos mais mais importantes são.
  • Campo Psicofísico (o ser em interação com o meio ambiente), e,
  • Figura e Fundo (tudo aquilo que chama a atenção num determinado momento ou situação é considerado figura, uma forma ou totalidade organizada, que se separa do fundo que lhe serve de continente, e para onde volta frente a um novo estímulo, o que significa que nossas percepções atuais estão condicionadas pelas anteriores).

Alguns pesquisadores, em particular os gestaltistas, desenvolveram pesquisas a fim de avaliar como a percepção de um objeto pode ser afetada e alterada por conteúdos subjetivos, e confirmaram que o psiquismo humano obedece a algumas leis universais já descritas por Aristóteles há mais de dois milênios.

LEI DA CONSTÂNCIA PERCEPTIVA.

Uma vez que tenhamos aprendido sobre um determinado elemento (tamanho, peso, altura, textura, cor, etc..), tendemos a utilizar estes dados para analisar este objeto sempre que ele apareça, independente do estímulo chegar aos nossos sentidos de forma diferente do que sabemos. Por exemplo: se uma pessoa está passando longe de nós, a imagem que nos chega é menor do que a pessoa é na realidade. Mas isso não faz com que consideremos esta pessoa uma anã. Pelo contrário, utilizando as informações que temos armazenadas (aprendidas) sobre aquela pessoa, faremos uma correção mental da imagem de forma a torná-la apropriada à realidade, e a imagem chegada da retina passa a ser somente um estímulo ao qual atribuiremos fatores corretivos e importância adequadas.
Caso não se tivesse as informações necessárias (previamente aprendidas) sobre aquela pessoa (principalmente tamanho), nosso psiquismo não faria correção alguma, ou talvez o fizesse em comparação com os dados aprendidos sobre a média de altura de um ser humano, mesmo que equivocadamente. Quando vemos uma pessoa que nós não conhecemos, por exemplo, um jogador de basquete, que normalmente tem mais de 2 metros de altura, estando ele sozinho, portanto sem referências comparativas, percebemos esta pessoa como se tivesse a altura média de uma pessoa normal, até que chegamos perto o suficiente para saber que estávamos enganados. Isto ocorre com qualquer outro objeto que conhecemos, e não precisa ser somente um registro internalizado de tamanho, mas a constância se aplica também à cor, textura, forma, brilho e localização.
A constância perceptiva carece, sempre, de informações previamente aprendidas, e na ausência dessas informações não conseguiremos fazer uso desta lei, pois não seremos capazes de fazer a correção da sensação do estímulo para a percepção adequada, e teremos que lidar com o estímulo como se fosse a primeira vez que o vemos.
LEI DA ORGANIZAÇÃO PERCEPTIVA.
Todo ser humano tende a organizar a sensação que lhe chega para poder entendê-la. O psiquismo humano não funciona muito bem sob pressão, principalmente a pressão de não entender determinado fato ou acontecimento. Por isso, a tendência é de fazer a percepção da sensação recebida num formato de conjunto (não a percepção de um objeto em si, mas de várias coisas juntas, como vários objetos, várias situações e movimentos ambientais no momento, etc), e não do fato isolado, porque assim o estímulo, contextualizado, poderá ter um significado muito mais adaptado à realidade de quem está percebendo (não somente ”o que é isso” , mas, “o que é isto e o que representa isso neste momento e perante esta situação”). Fora de um contexto mais global o objeto não perde o seu significado, mas perde em significado. Quando interpretamos a sensação do objeto dentro de um conjunto maior, a percepção enriquece.
LEI DA FIGURA E FUNDO
A Psicologia da Gestalt estudou a organização perceptiva, e elaborou a clássica lei da Figura e Fundo.
Diz esta lei que “a parte não pode se soltar do todo, mas pode ser percebida em ralação a ele”. Sempre que algo nos chama atenção, é porque está inserido num contexto maior que serviu de fundo e base para que aquilo ressaltasse. É o equivalente a uma tela, onde o artista coloca suas tintas a fim de proporcionar uma impressão. A tela é o fundo sem o qual aquilo que o artista quer registrar seria impossível, embora ninguém pense nisso quando está vendo um quadro. Aprecia-se a paisagem – a figura. Mesmo assim, não é toda a paisagem que chama a atenção. Algo nela nos impressionará mais num determinado momento, e então estaremos focando nossa atenção nisso, e tudo o mais da própria paisagem fica em segundo plano.
Porém, aquilo que nos chamou a atenção, só o fez por que existia um complexo conjunto de outras impressões que serviu de base, ou de fundo para o que nos chamou a atenção, ou seja, para o que percebemos Por isso, a percepção que uma pessoa tem do quadro pode não ter nada a ver com a percepção que outra pessoa tem.
LEI DA SEMELHANÇA.
Se a tendência psíquica é de perceber sempre um conjunto, dentro deste conjunto o organismo humano tende a perceber coisas semelhantes como se estivessem fazendo parte de um determinado grupo.
Por exemplo, alguém observa um jovem com cabelos compridos. Não conhece o jovem. Então, vai buscar no seu mundo psíquico informações que façam referência a “jovem” e a “cabelos compridos”. Provavelmente, se o observador vem de uma educação mais tradicionalista, combinará estas informações e poderá obter, subjetivamente, a imagem de um desocupado. Assim, este jovem, por mais que não o seja, a princípio será percebido como um desocupado ou alguém que pode oferecer perigo, de quem deve se proteger, etc… Pronto, o comportamento desta pessoa está afetado pelas imagens de seu repertório cognitivo, daquilo que já foi aprendido.
LEI DA PROXIMIDADE.
Na verdade é um complemento da lei anterior, e se refere à tendência que temos de agrupar coisas, pessoas ou situações que estejam próximas no tempo e no espaço, percebendo-os como juntos.
Como exemplo, vamos tomar outro jovem. Agora um que não usa cabelos compridos, veste-se de maneira adequada para uma educação tradicional, boa aparência. Porém, é visto freqüentemente com um grupo de jovens de vestimenta considerada inadequada ou excêntrica, pouca higiene pessoal, e cabelos compridos mal cuidados. O mesmo observador do exemplo anterior, sem conhecer o jovem em questão, tentará formar uma Gestalt, ou seja, tentará interpretar a informação que lhe chega, utilizando as informações que tem em seu repertório de aprendizagem. Este jovem poderá ser interpretado também como um desocupado, independentemente do que ele esteja fazendo naquele grupo.
LEI DO FECHAMENTO
O aparelho psíquico, com sua dificuldade para lidar com coisas que não conheça, tende a tornar conhecimento o desconhecido, e assim tendemos a preencher partes que faltam no estímulo sensorial que nos chega.
Para isso, novamente vamos nos utilizar de conhecimento já adquirido, e por uma questão de economia psíquica, vamos transformar aquilo que não tem forma definida em algo com um formato conhecido, assim poderemos fazer inferências e tirar conclusão, até mesmo orientar um determinado comportamento. Veja o desenho ao lado. Tendemos a fechar o desenho e transformá-lo em um triângulo. Mas pode se qualquer outra coisa.
Vamos a um exemplo: você não conseguiu completar uma tarefa do seu serviço, o que lhe dá um sentimento de que está em débito com a empresa que trabalha. Ao sair, alguém lhe diz: “escutei o chefe falando de você agora pouco”, e vai embora. Faltam algumas informações importantes para se tirar conclusões à respeito, não? O que estava sendo dito? Sobre o que estava falando o chefe?
Naturalmente, o ser em questão, para poder dar conta da informação acaba completando-a com as informações que tem consigo. “O chefe estava falando da minha pessoa porque eu não consegui terminar o meu trabalho, portanto está me julgando incompetente e deixando isso público para ter um motivo para me punir”.
No campo da publicidade esta lei é muito utilizada. Você já deve ter visto aquelas propagandas que quando lançadas são longas, e de repente você começa a perceber determinados cortes, e mesmo assim a propaganda não perde seu conteúdo. Normalmente está envolvida alguma música. Quando a propaganda é minimizada no tempo, o simples pedaço de uma música conduz o expectador a interpretar a música toda, e,portanto,a mensagem original na íntegra. É mais uma aplicação da lei do fechamento.

Roberte Metring

_________________

Sucesso e paz.
Varekai (onde quer que seja)
Roberte Metring – CRP 03/12745

Não me peça explicações, não as tenho. Eu simplesmente aconteço.
Psicoterapia – Consultoria – Cursos – Palestras
 Docência – Supervisão
contato@psicologoroberte.com.br – www.psicologoroberte.com.br