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O Comum e a Lenda

O Comum e a Lenda

Eu pego as lendas e as transformo em coisas comuns; ele pega as coisas comuns e transforma em lendas”.

Essa é uma das falas propostas por Nikolai Rimsky-korsakov para o personagem Salieri ao retratar Mozart na ópera em um ato Mozart e Salieti. É profunda.

Se pararmos para refletir, é pequeno o número de pessoas que é capaz de transformar coisas comuns em lendas, em transformar um simples por do sol num espetáculo, o agitar da águas do mar num requinte de beleza, o desabrochar de uma flor em um milagre. Não é comum pessoas apreciarem outras pessoas como uma jóia rara de grande valor. Menos comum ainda, é encontrarmos pessoas que conseguem apreciar a beleza de uma criança.

Sinto que existem dois tipos de pessoas, as pessoas comuns, e as pessoas especiais. Num mundo onde tantos estão falando de pessoas “especiais”, crianças especiais, portadores de necessidades especiais, me incomoda um pouco essa reflexão. Parece que para ser especial, a pessoa tem que ter algum problema. No entanto, as pessoas “especiais” dos nossos tempos, conseguem perceber a beleza escondida na essência das pessoas e da natureza. São dotadas de enorme sensibilidade. Nós, os normais, é que parece termos problemas de sensiblidade para apreciar a vida, a natureza, o milagre diário.

As pessoas que até hoje conseguiram mostrar ao mundo o lado especial de tudo, eram pessoas sensíveis, pouco compreendidas, pouco apreciadas, a não ser depois de sua morte, e até mesmo censuradas e escarnecidas.

Cristo, Madre Teresa, Gandhi, Chico Xavier, João Paulo II, entre tantos outros, sabiam transformar o comum em lenda, pelo simples fato de conseguirem absorver, destilar, abstrair o belo em tudo o que encontravam. Não precisaram de diplomas, certificados, só precisaram amar, acreditar e fazer, com suavidade e firmeza. Só estavam presentes e atuavam. Só estavam dispostos a valorizar, a acreditar, a incentivar. Não se “metiam” na vida de ninguém, se não ajudavam, não atrapalhavam. Eram conscientes de si mesmos, se posicionavam e assumiam a responsabilidade de seus atos e pensamentos.

Eram simplesmente pessoas, humanos, mesmo sendo divinos. Talvez fossem divinamente humanos, ou humanamente divinos, não sei.

Mas de qualquer maneira, eram, foram, estiveram, marcaram, existiram. Talvez precisemos começar a existir, ter vida, ter propósitos. Talvez precisemos começar a remoldar nossos dias baseados nesses personagens da história da humanidade, que junto a tantos outros artistas da vida, na música, no teatro, nas telas, nas pinturas, conseguiam transformar tudo em belo, tudo em rico, tudo em precioso, com o olhar de um ser especial, e a simplicidade de uma crianca.

Cristo já dizia: “vinde a mim as criancinhas, pois dela será o reino dos céus”. Certamente ele não queria atrapalhar a evolução, nem impedir o progresso. Penso que só fazia um convite à simplicidade do olhar de uma criança para a vida e para o mundo, coisa que ha 2.000 anos já era rara. E sobre o reino dos céus? Bem… este parece estar dentro de cada um que consegue abstrair a beleza da vida e transformar em energia que possibilita a paz e a saúde.

Desejo um dia ser grande o suficiente para ser criança, e encontrar o reino dos céus. Desejo um dia ser pequeno o suficiente para acreditar em lendas e transformar as coisas comuns, em coisas magníficas. Desejo que um dia, todos os adultos possam voltar a ter o olhar e a simplicidade de uma criança perante a vida. Desejo que um dia, todos possamos transformar o comum numa lenda.

Roberte Metring

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Sucesso e paz.
Varekai (onde quer que seja)
Roberte Metring – CRP 03/12745

Não me peça explicações, não as tenho. Eu simplesmente aconteço.
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