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Gripe A e Água Benta: um vírus entre a religião e a ciência.

Gripe A e Água Benta: um vírus entre a religião e a ciência.

As pias das igrejas são usadas por centenas de pessoas a cada missa e podem acabar contaminadas com o vírus”. Este é um trecho da reportagem publicada no jornal Gazeta do Povo (Curitiba), nesta sexta feira, 24 de julho, cujo título é IGREJA TIRA ÁGUA BENTA DA PIA.

Bem, não bastasse esse vírus ter o poder de afastar as pessoas e desestimular as relações sociais, ainda consegue afetar até mesmo comportamentos e rituais religiosos centenários, senão milenares.

Várias coisas me chamam a atenção nessa reportagem, que na verdade tem poucas linhas, e foi inserida muito mais com caráter informativo que reflexivo no dito jornal.

Para iniciar, devo e quero elogiar a atitude do Pe. Leocádio Zytkowski, da paróquia Nossa Senhora das Graças, no bairro Barreirinha (Curitiba), que, dotado de enorme senso de responsabilidade comunitária, e certamente com algum embasamento científico, abre mão da ortodoxia e do engessamento mental, e passa a pensar igualmente na fé e na saúde de seus paroquianos. Albert Einstein já afirmava “a religião sem a ciência é cega, mas a ciência sem religião é coxa“, portanto, o Pe. Leocádio pode apoiar-se nos ombros de ilustre cientista para justificar sua atitude.

Ao mesmo tempo, me faz refletir sobre algumas afirmações milenares à respeito de religião, fé e ciência.

É dito, por vários estudiosos do assunto, sobre os poderes da energia sobre a água – catalisador universal, e sobre o poder da água energizada operar como curativa, etc. e tal. Sendo essa água – a água benta – energizada, como sempre acreditei ser, qual o poder dela sobre o vírus ou sobre a ação maléfica do vírus H1N1? Na verdade a água benta tem somente um poder de catalisador psicológico ou de efeito placebo sobre as pessoas que a usam? Serviria somente como um catalisador de fé, ou teria poderes curativos sobre organismos vivos? E quando me refiro a água benta, considerem a benta, a fluidificada, a purificada, a energizada, segundo as várias doutrinas de pensamento religioso existente.

Será que a religião anda duvidando de seus próprios ensinamentos? Afinal, a água benta sempre foi utilizada como fonte rica de energia renovada, positiva, abençoada e curativa, portanto, deveria ser ótima para neutralizar as atividades perniciosas do vírus. É utilizada para energizar pessoas e ambientes, neutralizar espíritos malignos, purificar espaços, firmar o perdão aos pecados, etc. Ou não? Ou será que seu poder só exerce efeito em seres humanos, e quando estes desejam receber suas energias? A ciência anda sendo mais pontual e factual que a religião?

A própria ciência anda tentando mostrar os efeitos da energização da água, e inclusive anda recomendando que se lave as mãos várias vezes ao dia a fim de combater a influência do vírus H1N1. Claro, sei que a água benta fica numa pia, parada, e que várias mãos participam do ritual do abençoamento, mas tem sido dito que na água bem tratada, o vírus torna-se inócuo, em particular na água clorada. Por que então o impedimento de um ritual secular de significado tão profundo, e não o tratamento da água a ser abençoada? Aliás, sempre achei que se um dia alguém quisesse acabar com a humanidade, a água seria um veículo fantástico. Felizmente, até agora foi utilizada como veículo para a cura, com o tratamento, a clorificação, entre outros. Pelo sim ou pelo não, prefiro aplaudir a atitude do Pe. Leocádio, afinal, cautela e canja de galinha nunca mataram ninguém.

Além disso, a mesma reportagem informa que Dom Pedro Luiz Stringhini, da região episcopal de Belém, sabiamente distribuiu nota pedindo aos padres que desestimulem a comunhão com a hóstia colocada direto na língua (deve ser dada na mão de cada fiel), que não convidem ao abraço da paz e não convidem as pessoas a darem-se as mãos para rezar o pai nosso. Onde chegamos? Em que grau chegamos? Que humanidade é essa? Ou será que está chegando o momento da união mais espiritual que física? O vírus HIV já provocou reação semelhante, lembram?

Tanto fizemos que estamos colhendo os frutos? Sim, tanto fizemos que estamos colhendo os frutos! Tanto aprontamos com a natureza ao longo de milenares episódios da evolução humana, que em mais algum tempo, que não se aponta longínquo, simplesmente desapareceremos da face do planeta por pura falta de socialização, de demonstração e recebimento de carinho, de afeto. Em mais alguns anos, se continuarmos nesse ritmo, provavelmente tenhamos medo uns dos outros, e talvez até, passemos a estruturar grupos de controle, vigilância e fiscalização para punirmos as pessoas que desejem viver uma vida humana, afetiva, de trocas. Estou a acreditar que rapidamente estaremos com muita inveja e ciúme dos animais, livres, vivendo a vida aberta e solidariamente, enquanto nós estaremos olhando-os e chorando nossa própria miséria.

Uma raça tão superior, é abatida fugazmente por um vírus que nem consegue sobreviver adequadamente a simples presença de oxigênio. Que superioridade é essa? Aliás, na natureza temos dois pólos bem distintos de seres que adoram acabar com seu hospedeiro: numa ponta o vírus, na outra, o homem. Que destino cruel, vivemos como vírus. Homens matando homens, por ira, ódio, rancor, inveja, ou simplesmente por requinte de crueldade. Aliás, coisa que animal não faz.

Nas minhas longas viagens aéreas por esse Brasil, sempre a uma altitude equivalente a 12 km em relação ao nível médio do mar, é impressionante olhar para baixo e ver simplesmente o nada. É possível ver a natureza, o planeta, mas não é possível ver um único representante da espécie humana, de tão pequenos que somos. Mas é possível ver o estrago causado por esse ser microscópico daquela altura. O planeta está esburacado.

E este mesmo ser, minúsculo, microscópico em relação ao planeta, se julga muito superior, se julga poderoso. Este mesmo ser mata outro ser para dominar. Dominar o que? Que espécie de domínio pode exercer um ser que é abatido por um vírus?

Talvez estejamos vivendo um tempo de revisão de vida, tanto material, como mental, como espiritual. Na verdade, a única evolução que se tem percebido, é a evolução intelectual, mas falta a evolução moral, e posso bem plagiar as palavras de Einstein para dizer que a razão sem a moral é surda, e a moral sem o uso da razão é muda.

Agora que vemos tanto a ciência quando a religião se rendendo a um simples vírus, passo a acreditar que está na hora dessas juntarem as forças, e procurarem uma maneira mais eficiente de mostrar ao ser humano sua insignificância (como sempre o quis fazer a religião) e ao mesmo tempo, seu poder de crescimento e domínio (como sempre a ciência desejou fazer).Somos tão insignificantes quanto somos poderosos.

O que será que diria Deus sobre isso?

Acho que diria: cada ser humano está matando o Deus que existe dentro de si; o mesmo Deus que criou a natureza orgânica, criou a natureza humana. O mesmo Deus que habita na flor e controla o cósmos, habita o ser humano, que parece insistir em viver no caos. Se o ser humano acreditasse mesmo em Deus, deixaria de procurá-lo em algum lugar do espaço, deixaria de adorá-lo em templos e igrejas, e passaria a respeitá-lo e adorá-lo em si próprio e em cada ser humano. Julgo que Cristo sabia bem o que queria dizer com: amai a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a ti mesmo.

Estamos sendo vítimas de nossos pecados, não no sentido religioso que lhe é atribuído, mas no sentido das faltas que cometemos contra nós mesmos, contra esse Deus que nos habita, contra nossas forças maiores, as mesmas que utilizamos para acabar com o planeta. Estamos matando Deus. E se Deus pode tudo, pode bem deixar isso acontecer. E se estamos matando Deus, sobra espaço para todo tipo de invasão perniciosa e predatória, e a mostra de nossa falibilidade é um vírus, fraco, microscópico, mas que parece carregar consigo um poder que nenhum ser humano tem, senão do ponto de vista biológico – que já é perverso, do ponto de vista moral, já que está conseguindo afastar as pessoas das relações.

Ao circular por três aeroportos nessa manhã, em locais distintos da região sul do Brasil, foi degradante ver as pessoas com máscaras, evitando se encontrar, se encostar, se tocar, se olhar. Senti um clima como se todos fossem culpados até prova em contrário, incluvise eu. Algumas não só com máscaras, mas também com luvas cirúrgicas, para evitar todo tipo de contato. Não é uma critica, julgo que esse comportamento seja de defesa, necessário, principalmente para os funcionários das companhias e aeroportos, mas é impossível não filosofar sobre isso, e não analisar o comportamento observável.

Dentro das aeronaves as pessoas estão procurando ficar afastadas umas das outras o mais possível. Qualquer respiração mais forte e você já é olhado como suspeito, como culpado, como criminoso. Eu estava sem máscara, e comecei a me sentir realmente culpado. Estou começando a me sentir como uma ave caída do ninho. Culpado por mim, e culpado pelos outros. E, acreditem, por causa da gripe suína, as pessoas estão usando máscaras que lhes dão um que de focinho de porco.

É possível que já tenha misturado o discurso científico com o pessoal e religioso, mas parece que está ficando difícil de não fazê-lo em nossos dias. Quanto mais estudo Deus, mais entendo a ciência, e quanto mais me enfronho nas neurociências, parece que mais perto fico de produzir algum entendimento – ínfimo, pífio, sobre Deus.

E para terminar, fica aqui a reflexão gerada por um simples vírus, ser microscópico, involuído, primitivo e ordinário, que afeta miseravelmente a existência de um ser “evoluído” chamado homem. No contraponto, parece que resta Deus, o ordenador, senhor barbudo, sapiente e paciente o suficiente para aguardar os resultados das ações daquele que criou e para quem deu uma inteligência. Reflitam comigo, e se desejarem, façam seus comentários.

Roberte Metring

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Sucesso e paz.
Varekai (onde quer que seja)
Roberte Metring – CRP 03/12745

Não me peça explicações, não as tenho. Eu simplesmente aconteço.
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