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Frente ao espelho

Frente ao espelho

– “Não controlo meus pensamentos: imagens ruins, idéias ruins, sonhos ruins.” – “Tenho medo de errar, medo de ser rejeitado, medo de passar fome, de ser humilhado, de enfermidades, de meus filhos se desviarem, das filhas engravidarem. Medo de dívidas, medo da depressão.” – “Espero que não notem que chorei. Preciso melhorar o sorriso.” – “Eu me vejo em um beco sem saída.” – “Sem perspectiva. O que quero fazer não consigo.” – “Não tenho mais vontade de orar. Não sinto a presença de Deus há muito tempo.” – “Quero dar o melhor aos meus filhos, mas só tenho a agressividade, a ausência de dialogo, o autoritarismo.” – “Sinto-me só, não tenho apoio da Igreja, não tenho apoio dos colegas e nem dos amigos” – “O medo quer me possuir.” – “Quero beber, embriagar-me, fugir da realidade.” – “Não confio em ninguém, poupo a esposa de meus conflitos. Ela está depressiva, ela quer ir embora. A nossa prática sexual está quase falida. Não consigo satisfazê-la. Ela tem bloqueios, acha o sexo imundo. Acho que ela não sabe o que é orgasmo. Nem sabe o que é, e nem sentiu.” – “Não sei dialogar, não sei externar amor.” – “Tenho inveja de meu vizinho. Ele parece ser feliz, parece ganhar mais do que eu. Talvez fosse melhor não ter me convertido.” – “Sinto-me desprezado pelo vizinho, pelo prefeito, pelos comerciantes, pelo motorista de táxi, pelo engraxate.” – “Sinto-me abandonado por Deus.” – “Acho que se esqueceram de mim, ninguém me entende.” – “Tenho profunda tristeza. Estou só. Sinto-me incompreendido.” – “Quero gritar. Quero chorar.” – “Tenho saudade do tempo que vendia eletrodoméstico. Saudade da carteira assinada.” – “Tenho dormido mal, mal estar, maus pensamentos, sentimentos.” – “Preciso de um ombro para chorar, ouvidos atentos para falar.” – “Tenho medo de me tirarem daqui, de me cortarem o salário.” – “Não sei o que fazer. Quero desistir. Quero morrer…” – “Tenho que reagir.” – “Vou escovar os dentes, fazer a barba… Tenho um dia todo pela frente.”

Esses foram alguns pensamentos gerados por Sérgio Muller (eu não o conheço mas recebo mensagens suas diariamente…) em frente ao espelho, quando se permitiu pensar numa coisa muito simples: “se os meus sentimentos refletissem no espelho seria difícil me contemplar!”

Ao ler isso, fui obrigado a parar para refletir, como seria realmente difícil encarar o espelho todo dia, pois todos nós, em algum dia, de alguma forma, por alguma razão, já tivemos pensamentos semelhantes, senão os mesmos, alguns por dia, todos de uma vêz, sabe-se lá como e porque.

A questão é: o espelho mostra a forma mas não o conteúdo.

No espelho podemos alterar a forma, o perfil, a estética, aquela mesma que apresentamos aos outros, aquela que rege o ditado “a primeira impressão é que fica“, porque todos acreditamos que através da forma podemos ver ou inferir sobre o conteúdo, afinal, belos pratos sempre sugerem comidas deliciosas. Mas e o conteúdo? Será que tem um espelho que nos faça ver o que ocorre em nosso íntimo? Será que se houvesse esse “espelho, espelho meu“, tomaríamos tantos cuidados com nossa higiene mental quanto tomamos com nossa aparência? Imagine então, se houvesse a possibilidade de os outros poderem acessar nossos pensamento e sentimentos para além da aparência, como sobreviveríamos?

E nossa aparência não será o resultado direto dos conteúdos que permeiam nosso íntimo ser? Hoje somos sabedores de que o corpo, na verdade, é a forma metafórica e material que nossa mente (chamem de alma, espírito ou do que quizerem, segundo suas crenças, desejos, conveniência, não importa nesse momento) usa para se manifestar, para existir nesse plano. Somos um conjunto ordenado do que comemos, do que respiramos, e do que pensamos. E acredito que somos muito mais o que pensamos, pois segundo o conteúdo de nossos pensamentos, chegamos a perder a fome e até mesmo alteramos nossa respiração. Mas o que comemos não muda nossos pensamentos, por incrível que pareça. Então, vou ficar com a idéia central de que somos o que pensamos, somos nossa vida mental, somos o conteúdo de nossos pensamentos.

Será por isso que algumas pessoas que parecem tão bonitas perdem o brilho da sua beleza estética exatamene quando abrem a boca? Ou quando se relacionam com outra pessoa? Quando observamos com mais detalhes as finezas do seu comportamento?

Será por isso que pessoas que não oferecem atrativos estéticos se tornam lindas pessoas quando se aproximam, quando se expressam, quando se confrontam, quando se corportam?

Então, onde estará verdadeiramente a beleza? O que faz de uma pessoa alguém realmente belo? E aqui, me parece que belo tem um sentido muito diferente de bonito simplesmente. Começo a pensar que o belo é um conjunto muito maior de predicados, que envolvem, inclusive, o bonito (esteticamente falando).

Assim sendo, faz-se bela a pessoa que é bela!!! E começo a defender junto a você, leitor ou leitora, que a beleza deve começar pelos seus pensamentos, pelos conteúdos que habitam sua mente. Convido todos a refletirem sobre isso, e mais, a começar a olhar melhor para o espelho e a perguntar: se ele refletisse meus pensamentos e sentimentos, eu gostaria de estar olhando para ele agora? Como eu estaria me enxergando? Quantos sustos tomaria de mim mesmo?

Vamos cuidar de nossa higiene mental (que é muito mais íntima que a higiene “intima” propriamente dita). Vamos elaborar melhor nossos pensamentos, e, quando não pudermos olhar para o espelho de medo de ver o que pensamos ou sentimos, vamos dar um jeito de recuperar, retificar, perdoar ou pedir perdão, a si mesmo, aos outros, à natureza, ao mundo, a Deus, a quem quer que seja, pois se não é possível olhar para o íntimo com liberdade e alegria, alguma coisa certamente não está boa, não está certa, não está sadia, e então, é hora de revisar, de reciclar, de voltar a si para limpar-se, para depurar-se, de amar-se. E assim, ficará mais fácil poder praticar um dos maiores ensinamentos já deixados nesse planeta: AMAI AO PRÓXIMO COMO A TI MESMO.

Roberte Metring

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Sucesso e paz.
Varekai (onde quer que seja)
Roberte Metring – CRP 03/12745

Não me peça explicações, não as tenho. Eu simplesmente aconteço.
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