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A pesquisa

A pesquisa

A SAÚDE

Um notável pesquisador, que viajava constantemente colhendo dados para sempre renovadas pesquisas, chegou certo dia a uma cidade, no alto de uma montanha. O ar ali era puro. Muitas árvores haviam sido plantadas, enchendo praças e jardins.

Nos feriados e finais de semana os parques recebiam as famílias para os folguedos com os filhos. As escolas viviam repletas  de crianças e jovens, das variadas idades, dispostas a estudar e aprender. A indústria, o comércio, tudo andava em crescente progresso.

O que chamou a atenção do pesquisador é que ali não havia doentes. Era um povo sadio que sentia prazer na execução das tarefas, tanto quanto sentia prazer no lazer, compartilhado com afetos em todos os momentos.

A DOENÇA

Passado algum tempo, o pesquisador desceu a montanha, pelo lado oposto que viera e se deparou com outra cidade.

Logo que a adentrou, verificou como ela era diferente da que acabara de visitar. Não havia flores, nem jardins. As escolas estavam quase vazias, enquanto as crianças ficavam pelas ruas, aprontando molecagens.

Homens, que poderiam ser fortes, estavam acomodados debaixo de árvores antigas, preguiçosos, dormindo em redes, em pleno dia.

Jovens que poderiam estar produzindo, graças ao seu vigor físico e sua inteligência, nada mais faziam que se divertir.

Uma característica, no entanto, saltava aos olhos. Era um povo doente. Filas enormes se estendiam nas portas dos hospitais. Ambulâncias iam e vinham com as sirenes ligadas, de forma contínua.

Consultórios médicos, clínicas, tudo abarrotado. É como se uma grave praga se tivesse abatido sobre o povo. O que seria?

A CONCLUSÃO

E por que uma tão grande diferença entre o povo do alto da montanha e aqueles do vale?

Não foi necessário muito tempo para que o homem, habituado a pesquisas, descobrisse o motivo. É que o povo do vale não trabalhava. A sua filosofia de vida era deixar para depois o que devia ser feito de imediato.

Assim, a grama crescia e se tornava mato, onde se abrigavam espécies nocivas que agrediam as criaturas. O lixo era jogado por todos os lugares, permitindo o surgimento de outros tantos perigos. Germes, vírus, micróbios andavam em festa, desde que a higiene mais simples não era realizada. E havia descuidos na alimentação, no vestuário, nas residências. Era um caos.

Portanto, a grande diferença entre as duas cidades estava no trabalho.

Do livro O melhor é viver em família, v. 9, de Marilena Mota Alves de Carvalho, Vera Verônica do Nascimento Cavalcanti, Berenice Castro Gonçalves Leite e Nancy Medeiros, ed. Celd

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Caros leitores, por acaso vocês puderam se identificar com o texto? Já tiveram a oportunidade de andar pelos dois lados da montanha?

Tenho certeza que sim.

Como sabem, devido às minhas atividades profissionais, eu viajo muito por esse Brasil, e quanto mais eu viajo, mais eu me sinto descendo a montanha. Cada vêz encontro mais cidades doentes, com povos doentes. Cada vêz mais, encontro menos pessoas dedicadas ao trabalho, pelo menos ao trabalho sério, honesto e exercido com competência.

Cada vez mais encontro pessoas confusas, atrapalhadas e se atrapalhando umas às outras. Cada vez mais burocracia, papelada, controle de tudo, que vira controle de nada.

Cada vez mais encontro a disposição ao ganho fácil, ao mando desnorteante e ao orgasmo do poder. Ao mesmo tempo, cada vez mais encontro pessoas se “acostumando” a serem mandadas, sem questionamentos, sem razão, sem critério que permita entender o que acontece.

E isso não se retrata somente em cidades, mas em empresas, instituições e órgãos. Descasos, desmandos, incertezas, falta de responsabilidade, falta de respeito ao próximo e ao profissional que deseja, ainda, prestar seus serviços com competência.

Ainda vivemos nesse Brasil a era do coronelismo, agora disfarçado de mudança, de novidade, de tecnologia, e engodo. Antes o coronelismo era claro e todos sabiam exatamente quem mandava e quem obedecia, o que ja era bem ruim. Hoje, graças aos tantos avanços científicos, às descobertas sobre como funciona a mente humana, há a prática do engodo, da demagogia lavada e descarada, que acompanha desde os mais altos aos mais baixos patamares da sociedade, confundindo as pessoas com a bandeira da liberdade e da autonomia.

Continuamos vendo os absurdos, e aqueles que se dignam a contestar, a discutir, a refletir, é obrigado a calar-se, muitas vezes em troca das parcas moedas denominadas de salário, e da “garantia” de um emprego instável. Claro, há os que estão do lado de lá da montanha, mas são povos diferentes, não se conhecem, nem se encontram, salvo em alguns tiroteios quando alguém resolve reclamar que paga o maior valor de IPTU do planeta, e tem que escutar o estouto dos tiros que vem de algum lugar, algum lugar onde faltou a educação, onde faltou a cultura, onde faltou a dignidade de ter nascido.

Somos vitimas do capitalismo, escravos da idiotice, e prisioneiros de nossos medos e de nossas acomodações. Ninguém mais deseja sair da zona de conforto. Para que? Está tudo bem. O Brasil é um paraíso e o planeta o verdadeiro refugio divino aos problemas do universo.

Bem, o texto é auto-explicativo. Me assusta, como profissional da área da saúde, passar por cidades onde o que mais se encontra são farmácias e hospitais, claro, depois dos botecos e das igrejas, nessa ordem. Cidades de hospitais sucateados, de sistema de saúde esquizofrenico, de pânico geral nos corredores. O retrato do povo doente. O nome da doença? Ignorância, a mãe de todos os males.

E da ignorância posso falar enquanto profissional do ensino (nem me digno a dizer que sou profissional da educação, tenho vergonha de me colocar a usar tal termo, que em sua magnitude, poucos tem competência e ombros para carregar), ao ver e constatar as escolas sucateadas, o ensino apodrecido, a estrutura débil querendo ensinar cegos a conduzirem cegos.

Precisamos rever nossas ideologias e conceitos. Precisamos pregar mais o trabalho sério, honesto, competente, e sua adequada remuneração para manter um estado de qualidade de vida, de saúde e de felicidade. Sem enganos. Sem engodos. Com respeito, educação e saúde..

Ainda precisamos aprender muito com quem mora do outro lado da montanha.

Roberte Metring

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Sucesso e paz.
Varekai (onde quer que seja)
Roberte Metring – CRP 03/12745

Não me peça explicações, não as tenho. Eu simplesmente aconteço.
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